A descentralização. O poder local. Repensar Coimbra, o mais antigo polo agregador do centro. O papel político e social do arquiteto e da Ordem dos Arquitectos. A exigência do público.
Lisboa e Porto. As primeiras gerações de arquitetos formadas em Portugal viam nos grandes centros urbanos a única hipótese de exercer arquitetura. Hoje, para se fixarem no resto do país, os arquitetos resistem. No centro, apesar dos excelentes fabricantes de cerâmicos, mobiliário urbano, construção, continua a ser mais difícil ter clientes, projetos de grande dimensão, sustentabilidade. Falta massa crítica, faltam oportunidades num território variado ― com ria, rios, mar, serras, floresta, planícies ―, o que é também um estímulo à criatividade. Com a implementação do metro, a estratégia para Coimbra, polo agregador do centro, será repensada. Uma discussão que não está desligada da descentralização e da relação com os territórios de fronteira. É necessário ter os arquitetos mais presentes na discussão política e cultural, e continuar a sensibilizar as comunidades para o papel social da arquitetura. Abrir a classe ao diálogo com a sociedade, debater a arquitetura com exigência.
A relação com clientes e construtores. A importância da funcionalidade, da criatividade e da abertura do cliente. O espaço de obra. O papel do imprevisto. A importância do contexto social em cada obra.
Existem escritores que dizem escrever sempre o mesmo livro e pintores que pintam, persistentemente, o mesmo quadro. Eduardo Souto de Moura, por exemplo, diz que faz sempre a mesma casa, porque a faz como se fosse para si. Alimentado pelo diálogo com requerentes, quando desenha, o arquiteto sabe por onde começar ― mas saberá onde acabar? Entre a arte e a realidade passam o tempo, a matéria, e, na arquitetura, o espaço da obra. Em contraponto à fantasia da arquitetura estão os construtores, que impõem limites à visão do arquiteto-artista. Mas são também eles quem a alimenta e ajuda a consolidá-la: diretores de obra, eletricistas, pintores, carpinteiros e canalizadores trabalham para erguer, de forma tangível, a ideia imaterial do arquiteto. E mesmo quando o imprevisto surge, todos concordam que dos erros, por vezes, emergem descobertas. Porque uma casa é uma construção coletiva, não queremos uma arquitetura de classes.
A obra e o seu contexto. A relação com contextos locais. A relação entre a arquitetura e a paisagem. A relação entre a arquitetura, os materiais e os construtores locais. Descrição/ memórias sobre projetos.
A colina de xisto e as cerejeiras que blindam a entrada do Piódão fazem parte da identidade da aldeia. Na Covilhã, a memória da indústria dos lanifícios materializa-se em grandes pedras de granito, aparelhadas, num anfiteatro natural, onde se estirava a lã ― as râmolas de sol. Há construções que parecem brotar das paisagens, criando a ilusão de terem sido projetadas pela própria terra, de serem atemporais. Porque o lado humanista da arquitetura não pertence, na verdade, ao ser humano: pertence, essencialmente, à natureza, ao espaço, tempo e seres vivos que a rodeiam e que dela são indissociáveis. Algo que se revela no desenho, na escala, na linguagem, nos materiais e técnicas construtivas, nas pessoas que as conhecem. Num banco em vime, pensado por e para um executante local. Na preservação de carpintarias antigas num edifício reabilitado. É um equilíbrio sensível, aquele procurado pela arquitetura, entre a anulação e afirmação perante a paisagem. Porque nem só os edifícios são arquitetura.